quinta-feira, 12 de março de 2009

Inconstância

Estou doida pra escrever, deixar as palavras preencherem os espaços brancos do papel, mas estou totalmente sem inspiração, parece-me que as idéias não conseguem se ordenar e tomar forma. Uma escassez horrorosa de palavras.
Essa luta diária por novas idéias, tem nos tornado cada vez mais apreensivos. Medo de não dar conta, medo de fazer errado, medo de tornar público nosso medo.
Nesse contexto conturbado procuramos por algo que nos faça esquecer o complexo. uma fuga que muitas vezes nos leva ao consumismo desenfreado... Nem sei bem por que estou falando sobre isso, mas é um mal que tem acometido a sociedade moderna. Segundo Bauman, vivemos numa sociedade de consumo, uma sociedade do esquecimento. Prazeres rápidos, relações fluidas, desejos latentes. Tudo proveniente de nossas insatisfações.
Pensando bem, Bauman tem razão, nossas insatisfações se refletem na coleção de verão, na lingerie para aquela tão esperada noite... sem falar na coleção de sapatos e bolsas. Meus Deus, isso tira qualquer mulher do seu mundo de insatisfações e com certeza eleva seu prazer ao nível máximo, nem que seja por alguns momentos. Por que com certeza, a vida moderna tem nos cobrado tanto que estamos em constante busca. Logo após chegar em casa, guardamos as compras, e já estamos pensando em um novo objeto de prazer. É continuamente assim, um cíclo. Mas será que há alguns anos atrás as coisas eram diferentes? Ou sempre existiu esse consumismo? Ao que me parece o que mudou foi o modo de vida, a cultura, assim, se temos mais indústrias, mais serviços, mais pessoas para consumirem, mais necessidades básicas, logo, o aumento desenfreado dessa sociedade é consequência. Mas isso é outra história, aí vem os antropólogos como Lívia Barbosa e começa analisar o indivíduo, e diz que há muito mais no ato de consumir que podemos imaginar.
Aqui entre nós, mesmo com todos esses profissionais estudando nosso comportamento, não há nada melhor que comprar, mesmo tendo dentro do seu armário 235 pares de sapato, 160 bolsas e um tanto mais de roupas e lingeries. E uma insatisfação que não acaba nunca.
Mulher é bicho estranho mesmo...

terça-feira, 10 de março de 2009

Sobre Nelson Rodrigues

Desvendar os mistérios do "anjo pornográfico" é tarefa deliciosa, pois ainda hoje, suas personagens envolvidas em relações incestuosas, traições, mentiras e comportamentos à beira da loucura são um tapa na cara da nossa sociedade.
É um prazer indescritível nos perder nas peças de Nelson Rodrigues, seja as psicológicas, as místicas ou as tragédias cariocas.

A matéria " A idiossincrasia de Nelson Rodrigues", edição 14 da Revista Discutindo Literatura, está imperdível. Infelizmente não está disponível na internet para postar.

Quem tiver a oportunidade, leia.

www.discutindoliteratura.com.br


sexta-feira, 6 de março de 2009

Deu no Jornal

ARTE E ARTESANATO NO VALE DO JEQUITINHONHA
O Ação de amanhã, às 7h40, aborda os 25 anos do Mãos de Minas – organização não-governamental que investe no artesanato produzido no Vale do Jequitinhonha. A iniciativa do projeto representa para boa parte dos moradores da região a possibilidade de inserção no mercado de trabalho e melhoria na qualidade de vida. O apresentador Serginho Groisman conversa com Tânia Machado, diretora da instituição, que lembra como o projeto vem se desenvolvendo ao longo dos anos e explica as atividades que fazem parte dos serviços prestados. Na Rede Globo.

Discutindo Literatura - Edição 14

FÊNIX DAS PALAVRAS





Sobre Clarice Lispector não tenho palavras... Como ela mesma dizia "... para o meu melhor pensamento não são encontradas palavras..."


Meu Deus! o que dizer sobre essa mulher?
Suas personagens, ainda hoje, são o retrato do nosso cotidiano - Mas sua habilidade com a escrita as transformava de uma maneira surpreendente...



"Ela dizia que não era escritora profissional porque só escrevia quando tinha vontade. Não queria compromissos consigo mesma nem com os outros. Assim, mantinha sua liberdade. Felizmente, seu desejo de escrever era constante. Interrompido apenas entre uma obra e outra, quando se dava o tempo de morrer, ao finalizar um livro, e renascer, ao começar outro. Sobre a sua vida pessoal, ela diz, no romance Água Viva: “Eu não tenho enredo de vida? Sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver. E não tenho medo do fracasso. Que o fracasso me aniquile, quero a glória de cair.”
Ler Clarice Lispector é uma aventura de risco. Nas vielas, esquinas e becos de seus escritos, pulsa uma intensidade arrebatadora capaz de levar o leitor a ficar frente a frente consigo mesmo. Trata-se de uma artista de alma insone, e quem respirou seu hálito nunca mais poderá dormir como antes.

Sua obra denota uma solidão absoluta. Pode-se ter a companhia de Clarice Lispector, mas ela jamais pisou a Terra em companhia de ninguém, a não ser a da aterradora sombra de si mesma e de sua consciência hiperdilatada. Ao leitor resta a perplexidade transformadora do contato com uma estranha que o conhece até a medula, que percorre os desvãos do mundo e do ser com uma destreza insuspeita para o limite humano, sem negar as asperezas do caminho, mas sem tombar jamais.

Quando se trata de Clarice Lispector, o caminho não tem volta, seja para o enunciador e suas criaturas, seja para o leitor incauto. O primeiro grande susto que ela promove é o do ponto de vista. Ao abrir um livro de sua autoria, descortina-se aos olhos de quem lê, no mínimo, uma perspectiva inusitada. Lispector quebra o eixo da percepção cotidiana e inaugura um prisma desconcertante. O mais espantoso: sem tratar de algo particularmente extravagante. O habitual desdobrase em transcendências surpreendentes e de tal grandeza, que tudo o que houve antes daquele momento de revelação fica sob suspeita.
Sob seu olhar agudo, o ínfimo parece cósmico; o silêncio, um estrondo. E não importa o quê. O aniversário de 89 anos de uma velha; uma patroa de classe média alta que finalmente adentra as dependências do próprio apartamento onde ficava a empregada demissionária; uma Joana traída; uma dona de casa andando de bonde que avista um cego mascando chiclete na rua;uma galinha fujona que frustra o almoço domingueiro de uma família de subúrbio; uma Sofia que provoca a sabedoria de um professor primário; uma nordestina que tenta a vida na cidade grande. Clarice busca um estremeção qualquer no cotidiano e o expande até a náusea."
Emoção latente
"Seus personagens, gente comum,às voltas com o dia-a-dia magro, sofrem a fissura de um imprevisto qualquer que os transtorna, crispando-os, desequilibrando-os. O que move esse desequilíbrio é a súbita revelação de algo fundamental que permanecia, até então, adormecido.
Uma revelação, uma epifania. Os agentes dessa epifania são igualmente banais: a breve descompostura da velha na solenidade de seu aniversário; a barata asquerosa que aparece súbita do armário nas dependências vazias do quarto de empregada; a gravidez repentina da amante secreta do marido; a galinha que foge, negando-se a ser o almoço da família; a menina que interrompe a aula, desafiando o professor cansado; a velha cartomante que incute na imigrante nordestina a consciência da própria tragédia e, simultaneamente, a esperança.
Os protagonistas das histórias de Clarice são compelidos, então, a uma dolorosa viagem introspectiva que resultará numa transformação íntima radical, de onde emergirão transformados, por vezes sem encontrar lugar “em seus próprios dias”.

A paixão é um elemento fundamental nesse processo de epifania – paixão em seus vários sentidos: de “sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão”; de sofrimento; de amor ardente. As criaturas de Lispector vivem em estado crítico de sensibilidade e de urgência. Sentimentos de solidão, de abandono, de culpa, de júbilo e, sobretudo, de auto-enfrentamento promovem uma ruptura com a imagem que traziam de si e da realidade circundante, revelando a precariedade de sua condição, as carências e, muitas vezes, o que existe para além da falsa estabilidade do cotidiano.

Em sua obra, o narrador em primeira pessoa desnuda-se; o de terceira desnuda seus personagens até a caliça, e o fazem com a compaixão de quem domina a ciência da dor, de quem já desceu ou está descendo aos próprios infernos. Clarice revela o que há de realmente vivo sob a superfície do cotidiano. Seu olhar diabolicamente penetrante fez dela um dos maiores autores intimistas do século 20. A compreensão de sua obra é um esforço contínuo e cada vez mais instigante para estudiosos do mundo inteiro que se debruçam sobre seu mistério.
O instante-jáA escritura de Clarice Lispectoré uma mão poderosa que retém o instante e doma o tempo ao sabor dos caprichos da percepção subjetiva. Logo na primeira página deÁgua Viva, o narrador avisa: “Eu te digo: estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante-já que também não é mais. Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa”. Mais adiante, lê-se:“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. O que te direi? Te direi os instantes”.

Lispector domina o tempo mediante a captação do seu mais ínfimo fragmento: o instante. A “verdade inventada” do instante guarda na realidade a essência do todo que se fez imperceptível aos olhos baços que abarcam a sucessão convencional dos segundos. Tal captação é obsessiva na obra da autora. O segundo infinitesimal do é, dilatado por ela, ganha uma duração sobrenatural. O tempo real praticamente inexiste, o tempo psicológico é que vigora soberano."

terça-feira, 3 de março de 2009

Discutindo Literatura - Edição 14

Vale à pena ler essa revista - Como o próprio nome diz, "Discutindo Literatura" é um prato cheio para os amantes das letras... Vamos saborear!





UMA REFLEXÃO ÉTICA SOBRE MEDÉIA



Talvez o fato que cause maior estranheza ao leitor moderno de tragédias senequianas seja a coincidência temática com outras obras, mormente com as trágicas gregas, e nesse caso específico com Medéia de Eurípides. Isso ocorre por conta do desconhecimento de alguns conceitos “literários” antigos como imitação e emulação. Esse mesmo tema, após sua primeira apresentação com Eurípides, foi, pelo menos, três vezes retomado por outros autores: Sêneca, no primeiro século de nossa era; Corneille, no século 17, e, mais proximamente, na década de 70, com a montagem da “Medéia brasileira” de Paulo Pontes e Chico Buarque, no musical Gota d’Água. Em todas as versões, a magistralidade do texto cumpre a função precípua da tragédia: o efeito catártico, e, exatamente por isso, nos faz refletir acerca da permanência dos mitos.

Representação poéticaO argumento dessa tragédia – fundado na última parte da lenda de Jasão e Medéia, cujo ciclo inicia com a viagem dos argonautas para conquistar o velocino de ouro e termina justamente com a trágica sina da filha de Eetes, rei da Cólquida (atual Geórgia) – representa o limite a que pode chegar a alma feminina diante da recusa amorosa. Sêneca produz a combinação entre imaginário e real. Faz com que a lenda escorra na realidade e passe a perpetrá-la. Tem-se a nítida impressão de que seus textos não contam uma lenda, mas algo real que pode vir a se tornar lenda.

Com um nome que é cognato do verbo grego cujo significado é engendrar, calcular, produzir, tramar, maquinar, Medéia nasce na Cólquida, região dos ungüentos, dos tônicos e dos venenos. Sua habilidade “farmacêutica” é notória, e dela se utiliza, por vezes, para conduzir suas ações. Por outro lado, suas relações de parentesco não lhe comovem, não se inibe diante da possibilidade de matar um irmão ou trair o pai. Sempre o que a move é o imponderável, o inesperado.
Pontilhada de momentos patéticos, a tragédia adquire contornos interessantes, uma vez que é desvendado logo de início o fato motivador do enredo (o repúdio de Jasão), porém a ação é conduzida para a catástrofe aos poucos, e os acontecimentos soam absolutamente naturais, como fruto da própria necessidade. A protagonista mescla momentos de fúria – como os gritos e as maldições que saem do interior de sua casa ao ser repudiada – com os de uma absoluta racionalidade.

A mistura de horrores e racionalidade é a característica da protagonista. Se, de um lado, se vê fragílima, diante do abandono; de outro, é forte o suficiente para produzir “remédios”para o seu mal. Se, de uma parte, é capaz de voltar-se contra o pai e o irmão; de outra, é capaz de construir aos poucos, “em doses homeopáticas”, sua vingança contra Jasão, seu grande amor. Tais contrastes, que despontam das ações, produzem efeito singular na personagem. Mas, o que a audiência deve pensar sobre Medéia, será fruto do ódio ou da compaixão?


A tragédia de Sêneca, nesse sentido, nos propõe também reflexão ética, dado que nos faz optar ou não por um posicionamento sobre uma circunstância hedionda diante da qual não hesitaríamos nem um instante sequer se observada hoje
na nossa vida cotidiana. Alguém que mata os próprios filhos é inominável. Porém, lá hesitamos por risco e conta de uma efabulação cuja genialidade transcende às expectativas éticas do mundo contemporâneo, ou mesmo do antigo. Não estamos mais diante do “erro” de Édipo. Nela, a catástrofe é calculada, meditada e levada a termo sem qualquer pudor, e, mesmo assim, a dúvida permanece.

Medéia encontra seu caminho, pois antes não sabia o que faria para se vingar. Mais uma vez opera o confronto de duas possibilidades concretas. Dubiedade e duplicidade, esse é o sentido. Seus dois filhos serão, ao mesmo tempo, vingança e instrumento de vingança. Ao enviar seu presente de escusas a Creúsa e a Creonte, utiliza mais uma vez suas habilidades de feiticeira, as mesmas que selam o destino dos próprios filhos, pois ao tomarem contato com o veneno do presente, não poderão mais sobreviver. Simultaneamente, apesar do amargor e da tristeza que isso lhe traz, mata-os e finaliza a segunda parte da vingança, sendo a morte dos meninos a própria vingança contra Jasão.
Sob a perspectiva do mundo grego e romano, é interessante observar o desfecho proposto, uma vez que Medéia não é pólo passivo de punição pelos assassinatos que comete e foge de Corinto na carruagem do Sol. Dessa maneira, movida por um amor desmedido, o mesmo que a colocou contra o próprio sangue duas vezes, Medéia representa e é engendrada pelo binômio amor e ódio no limiar desses dois sentimentos, dessas duas afecções, que ora são patéticas, ora éticas.Além disso, simboliza em essência a capacidade de reação transformadora e de conversão, utilizando-se de sua absoluta racionalidade para dar fim ao seu sofrimento irracional. Na batalha de sua alma, entrechocam-se o desejo de vingança e o amor pelos filhos.
Assim, seja pela absoluta humanidade, seja pela grandeza de sentimentos que dissemina, Medéia pode ser considerada, como quase toda obra de Sêneca, retrato fiel da alma humana, com seus contrastes e devaneios, com sua fúria e seu amor. Nela, o que observamos é o espaço do homem como nós, ou melhor, do mito do homem comum, com limites e profundo realismo de sentimentos.
Paulo Martins é doutor em Letras Clássicas pela FFLCH-USP e professor da mesma universidade.


A APROPRIAÇÃO TEMÁTICACOMO ELEMENTO POSITIVO
Na Antiguidade clássica greco-latina, não havia o conceito de plágio nem de originalidade, que só aparecem no fim do século 18 com a disseminação da imagem do autor como ser diferenciado, que, platonicamente, possui uma relação especial com o divino e, por força de conseqüência, detém uma habilidade ímpar, original e sem precedentes.
Para os antigos, a apropriação temática a título de imitação era salutar e, mais, era uma referência para a observação do engenho (ingenium), capacidade de propor soluções textuais melhores e, nesse sentido, de superar o modelo inicial (aemulatio/emulação). Dessa forma, a teoria autoriza uma aproximação entre êmulos, no caso Eurípides e Sêneca.
A distância entre Sêneca e Eurípides reside justamente na ausência de teatralidade do primeiro em relação ao segundo. As peças de Sêneca, seguramente, foram escritas para serem lidas e não para serem encenadas, o que aristotelicamente retira da estrutura trágica, com a qual deve preocupar-se o tragediógrafo, aquilo que o filósofo grego chamou ópsis, a encenação. Isso, contudo, não impede que seu texto explore aspectos fundamentais como a perfeita construção dos caracteres (os éthe). Suas personagens são extremamente vigorosas e ricas.

segunda-feira, 2 de março de 2009

TV Alterosa | Teatro Alterosa comemora 15 anos

TV Alterosa Teatro Alterosa comemora 15 anos

Um grande Teatro...
Que abre a cortina para grandes artistas
Que ilumina grandes cenários
Que toca, emociona, modifica, seduz o público.
Parabéns ao Teatro Alterosa... Que esse palco sempre diga bis.

domingo, 1 de março de 2009

Deu no Jornal - Família Buarque de Holanda

MEMÓRIA

História de brasileiros
Romance mescla pesquisa e ficção para recuperar a saga dos Buarque de Holanda
Carlos Herculano Lopes

Casa da Palavra/divulgação


Heloísa Buarque de Hollanda com os netos, Álvaro, Luiz, Miúcha, Sergito, Teodoro, Jayme, Chico, Maria do Carmo, Ana Maria e Cristina (ao colo)

Velho ditado diz que todo brasileiro tem um pé na senzala, no engenho ou na igreja. Verdade ou não, no caso dos Buarque de Holanda – uma das mais emblemáticas famílias brasileiras –, os pés estão fincados nos engenhos nordestinos e na sacristia. Isso porque, lá pelos idos do século 18, um padre, Antonio Buarque Lisboa, deu com os costados em Porto Calvo, no atual estado de Alagoas, onde conheceu a mocinha Ana Tereza Lins, filha de um senhor local. Amor à primeira vista, encontros clandestinos e nasce – causando o maior escândalo na época – um menino chamado Manuel Buarque de Jesus. A partir daí, as uniões se sucedem: Buarques brancos se unem à negras e índias e o tempo vai passando, até se chegar ao século 20, com os nascimentos, entre outros ilustres, do historiador Sérgio Buarque de Holanda, do escritor e dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, do cantor e compositor Chico Buarque, de sua irmã Miúcha e da filha desta, Bebel Gilberto. 

Para contar essa saga, outro membro do clã, o economista e engenheiro Bartolomeu Buarque de Holanda, durante mais de 20 anos se viu às voltas com centenas de documentos, inúmeras viagens, pesquisas em cartórios, incontáveis entrevistas, até chegar ao recém-lançado romance Buarque, uma família brasileira. Valeu-se ainda, para fundamentar sua história, de um auxiliar precioso: um diário deixado por uma tia-bisavó, Ana Ursulina Buarque de Nazareth, que registrou relatos ouvidos dos antepassados. 

“Durante esse percurso, tive grande dificuldade devido às más condições de conservação dos nossos cartórios, principalmente no interior de Pernambuco e Alagoas. Muitos documentos estão guardados em sacos plásticos, amontoados nas estantes, corroídos pelas traças”, conta o escritor, que fez suas primeiras pesquisas no Nordeste no fim da década de 1970. Para complementá-las, esteve também em Portugal, onde revirou documentos na Torre do Tombo, no Arquivo Histórico Ultramarino e em vários outros lugares. 

Como não é fácil escrever uma história de família – principalmente quando se pertence a ela – quando se toca nos assuntos mais espinhosos, como as uniões ilícitas, o autor não se estendeu muito, embora não tenha omitido nada. “Foi proposital, para que pudesse falar mais dos personagens”, diz. Mas a narrativa, no todo, não foi prejudicada nesse entrelaçar de lembranças de gerações que se sucedem na formação de um país que ajudaram a construir. Além do mais, como a maioria dos fatos se perdem no tempo, Bartolomeu Buarque, às vezes, se permitiu uma ou outra pitada de ficção, mesmo que a história dos personagens tenha sido fundamentada em documentação cartorial. Conta que a resposta da família Buarque, “que aguardava o livro com ansiedade”, está sendo muito boa”. E a dos leitores também. 

Buarque, uma família brasileira 
De Bartolomeu Buarque de Holanda 
Editora Casa da Palavra, 198 página