domingo, 1 de março de 2009

Deu no Jornal - Família Buarque de Holanda

MEMÓRIA

História de brasileiros
Romance mescla pesquisa e ficção para recuperar a saga dos Buarque de Holanda
Carlos Herculano Lopes

Casa da Palavra/divulgação


Heloísa Buarque de Hollanda com os netos, Álvaro, Luiz, Miúcha, Sergito, Teodoro, Jayme, Chico, Maria do Carmo, Ana Maria e Cristina (ao colo)

Velho ditado diz que todo brasileiro tem um pé na senzala, no engenho ou na igreja. Verdade ou não, no caso dos Buarque de Holanda – uma das mais emblemáticas famílias brasileiras –, os pés estão fincados nos engenhos nordestinos e na sacristia. Isso porque, lá pelos idos do século 18, um padre, Antonio Buarque Lisboa, deu com os costados em Porto Calvo, no atual estado de Alagoas, onde conheceu a mocinha Ana Tereza Lins, filha de um senhor local. Amor à primeira vista, encontros clandestinos e nasce – causando o maior escândalo na época – um menino chamado Manuel Buarque de Jesus. A partir daí, as uniões se sucedem: Buarques brancos se unem à negras e índias e o tempo vai passando, até se chegar ao século 20, com os nascimentos, entre outros ilustres, do historiador Sérgio Buarque de Holanda, do escritor e dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, do cantor e compositor Chico Buarque, de sua irmã Miúcha e da filha desta, Bebel Gilberto. 

Para contar essa saga, outro membro do clã, o economista e engenheiro Bartolomeu Buarque de Holanda, durante mais de 20 anos se viu às voltas com centenas de documentos, inúmeras viagens, pesquisas em cartórios, incontáveis entrevistas, até chegar ao recém-lançado romance Buarque, uma família brasileira. Valeu-se ainda, para fundamentar sua história, de um auxiliar precioso: um diário deixado por uma tia-bisavó, Ana Ursulina Buarque de Nazareth, que registrou relatos ouvidos dos antepassados. 

“Durante esse percurso, tive grande dificuldade devido às más condições de conservação dos nossos cartórios, principalmente no interior de Pernambuco e Alagoas. Muitos documentos estão guardados em sacos plásticos, amontoados nas estantes, corroídos pelas traças”, conta o escritor, que fez suas primeiras pesquisas no Nordeste no fim da década de 1970. Para complementá-las, esteve também em Portugal, onde revirou documentos na Torre do Tombo, no Arquivo Histórico Ultramarino e em vários outros lugares. 

Como não é fácil escrever uma história de família – principalmente quando se pertence a ela – quando se toca nos assuntos mais espinhosos, como as uniões ilícitas, o autor não se estendeu muito, embora não tenha omitido nada. “Foi proposital, para que pudesse falar mais dos personagens”, diz. Mas a narrativa, no todo, não foi prejudicada nesse entrelaçar de lembranças de gerações que se sucedem na formação de um país que ajudaram a construir. Além do mais, como a maioria dos fatos se perdem no tempo, Bartolomeu Buarque, às vezes, se permitiu uma ou outra pitada de ficção, mesmo que a história dos personagens tenha sido fundamentada em documentação cartorial. Conta que a resposta da família Buarque, “que aguardava o livro com ansiedade”, está sendo muito boa”. E a dos leitores também. 

Buarque, uma família brasileira 
De Bartolomeu Buarque de Holanda 
Editora Casa da Palavra, 198 página