quinta-feira, 8 de março de 2012

Do fim ao começo...

Decidi começar pelo fim. Sim... O caracterizado fim, às vezes me permite imaginar e saborear um início nunca pensado antes. Pensando por esse lado, seria melhor começar tudo pelo fim, assim não teríamos tanto medo da morte anunciada. Já estaríamos mortos antes mesmo de nascer, dessa maneira, íamos ressurgindo e rejuvenescendo, criando asas, conquistando, promovendo, desejando até chegarmos ao início de tudo. E o início era apenas um projeto de gente brincando com bolas de sabão. Mas esse era o início do viver, porque o início da vida, ainda estava por vir. E essa seria a melhor parte. 
No início do viver não haveria mais o medo, porque já haveríamos renascido da morte, ganhado o que havíamos perdido. Sarado das doenças do corpo e superado as doenças da alma.  Assim, já teríamos transcendido os problemas de gente grande, já teríamos passado pelas dores mais íntimas, já teríamos descasado e já não seríamos mais pais e sim, filhos.
E o melhor de tudo, o amor já teria se transformado em paixão. Porque a paixão é o início de tudo. É o quente, é o ato não pensado, é a falta do medo. Paixão é o movimento circular da vida, é a borboleta metamorfoseando no estômago, é a brincadeira mais gostosa.
Não teríamos nenhuma preocupação, pois já teríamos arcado com as conseqüências do que estaríamos vivendo nesse momento. Não sentiríamos saudade porque reencontraríamos com o motivo desse sentimento.
Se eu tivesse começado pelo fim, agora estaria sentindo a brisa, sentada a beira mar, o leite jorrando na cara e esperando ansiosa pelo o ontem, quando eu estaria banhada pela água morna do leito da vida. Na alma de uma Mulher.

Por hoje é só...


Então é isso... Não dá mais! Chega de ser superficial. Preciso me preencher com o sal da vida. Compreender o prazer mais intímo da mulher, o orgasmo real. Não quero mais me contorcer de um lado para o outro, gemer e sussurar falsas palavras ao som do Blues da piedade. Não quero me virar para o canto e dormir, sem assunto. 
Estou saindo, abrindo a porta e arrancando o marco. Durante 36 anos, estive vendo o sol nascer, ouvindo as queixas do meu analista, muitas vezes, gozando sem prazer. E estudando sobre a possível secularização no reino de Creonte. Sim, quando eu comecei a gozar, as coisas já haviam mudado muito, não tive o prazer de gozar ao som de love me tender. Acho que meu período esteve entre o Elvis Presley e “Assim você me mata”. Claro que houve muita coisa boa antes de você me matar, mas eu acho que ainda não gozava.
Já desarrumei a mala. Desmontei os figurinos, desmanchei as teias de aranha acumulada ao longo dos anos.
Estou desconstruindo velhos pensamentos, desorganizando os livros na estante. Invertendo a posição da pirâmede de maslow. Troquei as gavetas e guarda-roupas por prateleiras. Quero tudo exposto, inclusive, as feridas.
Não fecho portas, pois elas não existem mais. Tirei a maquiagem do rosto e despi-me a pele de lebre. Mas pretendo utilizar algumas referências antigas, por que o atual nem sempre é novo. Quero beber da fonte dos que possuem um discernimento maior e melhor que o meu.
Agora, ao contrário do que todos possam imaginar, vou vestir-me com uma camisola do dia, confortável, colocar na vitrola o vinil do Chico e da Bethânia de 1975, beber um absinto e gozar. Gozar muito. Vou rever a chegada do homem à lua, refletir sobre a importância do movimento feminista... Pensando bem, prefiro avaliar a capacidade intelectual do Einstein e me preocupar com a tão falada camada de ozônio, na década de 90. 
É, o tempo esvaindo e a percepção de que tudo vai se tornando desinteressante, as coisas vão perdendo o valor, e não há mais pelo que lutar. É tudo tão fluído. Até a minha geração, os cara pintadas, perderam a verdadeira essência. Antes, ter um ideal era tão mais interessante que ter um peito comprado na liquidação. E quando se gozava, era de prazer real, porque além do tesão e dos corpos suados, havia uma boa razão para o cigarro depois do sexo. Ta certo que hoje não é politicamente correto fumar, pros diabos, eu nunca fumei mesmo. Mas que eu sempre achei interessante aquele cigarro depois sexo, isso sim, eu achava. E sendo sincera, ainda acho, principalmente se ele vier acompanhado de um bom papo,Gonzaguinha sangrando ao pé do ouvido, seu amado recolhendo e devolvendo os versos que sua boca deixa cair pelas páginas de um Neruda. Isso sim, é prazer real.
Houve uma inversão de valores, e o rebolado da Garota de Ipanema já não faz tanto verão assim, na verdade, nos últimos verões tem sido mais requisitado a salada de frutas.
Por hoje é só.