Algumas pessoas passam a vida inteira de olhos fechados, embora possam ver, definitivamente não conseguem enxergar, não exercitam a percepção, não questionam, e o que é pior, passam pela vida sem entender seu verdadeiro sentido.
Há algum tempo, estava à procura de um livro para preencher o ócio, e revirando o armário, me deparei com alguns escritos que me fizeram reviver leituras que talvez eu não tenha sabido enxergar – muitas vezes li, vendo apenas o que estava escrito, nunca enxergando a verdadeira e intensa paixão do poeta. Mas naquele instante, me veio a visão do esplendor. A descoberta de enxergar além da escrita, me levou ao ápice da felicidade, uma felicidade sorrateira, uma felicidade clandestina que me encheu os pulmões de um ar ansioso que aos poucos foi se transformando num suspiro deliciosamente tranquilo.
Agora, a leitura que sempre foi uma companheira – às vezes solitária... às vezes solidária... mais que uma viagem de palavras, me proporciona alguns contos imaginários que fazem parte de uma aprendizagem interior.
Devo admitir, que às vezes me falta perspicácia para ler os sinais que a vida me apresenta, é como a cidade sitiada, cercada por soldados cegos pela ignorância. Que não nos permite entrar ou sair, que nos obriga aceitar de corpo inteiro a imposição. E quando, por pura ingenuidade (sim, eu ainda vivo momentos de pura ingenuidade) penso que é o fim da linha, que não há outra forma de interpretação, num último suspiro, quase nos 5 minutos do 2º tempo, meu Deus: ainda há um sopro de vida – pulsações perto do coração selvagem. Recobro o juízo, quase num ato sepulcral, na tentativa de desequilibrar o amálgama da vida – um silêncio cortante, querendo gritar que já é a hora da estrela e que para não esquecer que há outras formas de enxergar e ler a vida, talvez seja preciso que o lustre esteja sempre aceso, iluminando a maçã no escuro.