quarta-feira, 18 de abril de 2012

                              Foto autorizada por Luciene Lemos






Quando acordei naquela manhã, percebi que havia me transformado. Como se tivesse desfeito o pesadelo e refeito o sonho bom. Sob o cobertor, ainda revia alguns instantes ao sabor da vida anunciada. Sentia-me livre.
 Lacônico, meu pensamento só gritava uma frase: Tire-me daqui. Se nada aconteceu até agora, transfira-me para onde eu possa viver e não apenas existir. Meu corpo doía. Inteiro. Em lugares que eu nem mesmo sabia que existia. Era a dor da existência, porque até então, eu apenas existia.
Naquela manhã, o sol amanheceu diferente, e apesar do clima frio, das folhas secas caídas pelo chão e da atmosfera do outono, o sol majestoso me convidava a viver.
Eu havia resolvido não remexer no passado, até pensei em jogar fora algumas chaves, cadeados, alguns sentimentos. Recomeçar a viver requer determinação e muitas vezes, abrir mão do passado, mesmo que ele seja inconsciente.
Mas aquela atmosfera não era apenas do outono, pra eu aceitar a transformação por inteira, ainda devia abrir alguns baús, revirar algumas fotos, reler algumas cartas e descobrir alguns segredos.
Não imaginei onde tudo aquilo poderia me levar e constatei que tatear o insólito pode nos revelar a própria desgraça.
Quando acordei naquela manhã, não sabia o que iria acontecer nas horas seguintes do dia. Mas tudo já estava arquitetado, planejado e sentido. O baú estava no mesmo lugar há anos; a chave guardada na mesma gaveta empoeirada e emperrada. E os segredos, ah... Os segredos sempre foram os alicerces daquela família. A palavra não pronunciada; os olhares inconfessos; a inaudita música que permeava nossa história.