sábado, 10 de março de 2012

O medo.



Vou confessar uma coisa.  Uma coisa que tem me incomodado todos os dia da minha vida. Sabe quando você acorda durante a noite com aquela sensação que tem uma barata no seu quarto? Pois então, essa coisa é a barata da minha vida. Acaba sendo interessante, eu me remeto ao Gabo que por sua vez foi se inspirar na barata Kafka e então, resolveu ser o prêmio nobel de literatura, com seus cem anos de solidão. Eu ainda estou com 36 anos de solidão, nenhum prêmio e um bocado de relações... quase pornográficas. O quase é muito chato, mas é melhor que o nunca, embora eu prefira o sempre inteira. 
A barata, esse inseto que anda, voa e atordoa, não me deixa dormir à noite. E quando ela resolve aparecer, sinto-me metamorfoseada em escritora. Não sei se é bom, embora a palavra seja minha comunicação com o mundo, às vezes prefiro não dizer, mas se não digo, meu silêncio que é sempre muito perigoso, pode falar coisas que eu não ouso dizer em palavras aveludadas. É a velha história do copo vazio que está cheio de ar, e pode, a qualquer movimento, transbordar. Um amontoado de palavras dentro de mim, querendo derramar. E a barata sempre lá, me desafiando, me acuando. E assim, vou me descascando, me transformando, transpondo as bordas e proliferando. Vou colorindo o espaço que está fora da área delimitada. Vou utilizando raiz forte, pimenta, pouco açúcar e muito afeto. E a barata continua lá, me incomodando, me provocando. E é preciso ir trocando de pele, instalando novos adereços, mudando a cor das palavras, invertendo a posição dos porquês. Ela continua me inquirindo, me julgando Joana d'Arc, me queimando as entrelinhas, me colocando de cabeça para baixo. 
E você me diz: É apenas uma barata. Não é maior que você. 
Você não entende nada. Não vê a proporção intelectual daquela barata. Não vê as clarices, Virginias, Florbelas, Cecílias, Simones que habitam aquela barata.
Eu sou apenas palavras mal formuladas em pequenos espaços em branco. Falta-me o verdadeiro colorido... da palavra. E a barata, continua no canto empoeirado do meu quarto.