quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Deu no jornal...

Irmãos de sangue

Novo álbum do compositor e maestro Wagner Tiso constata o parentesco entre o samba e o jazz. Repertório vai de Sinhô a Miles Davis, explorando a riqueza de harmonias e improvisos .
Ailton Magioli

Márcia Foletto/Divulgação

Claro que o samba invadiu primeiro as veias de Wagner Tiso, embora não fosse o repertório preferido dele na juventude. “Tinha Ary Barroso, Noel Rosa e outros nomes que as bandas de Três Pontas tocavam. Mas, quando jovem, eu estava mais ligado em outras coisas, embora já gostasse de Frank Sinatra, de Nat King Cole e das big bands”, relembra o maestro e integrante do Clube da Esquina. Com a chegada de Ray Charles à cena, ele passou a entender melhor as harmonias – era algo diferente, que desaguava no jazz, gênero que Wagner só veio a conhecer efetivamente em Belo Horizonte, na década de 1960, época em que começou a se apresentar na noite com Milton Nascimento. “Foi quando ouvi John Coltrane, Miles Davis e outros jazzistas que não escutava no Sul de Minas”, recorda o pianista, compositor e arranjador. Quase 50 anos depois, Wagner Tiso encerra a primorosa trilogia em que revisita sua memória musical com o disco Samba e jazz – Um século de música (Trem Mineiro). Digno do talento e da maturidade do artista, o projeto foi iniciado com o CD Debussy e Fauré encontram Milton e Tiso, em 1997, seguido de Tom Jobim Villa-Lobos (2000) – ambos gravados com a orquestra Rio Cello Ensemble. No Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1965, Wagner Tiso tomou consciência sobre o que o samba realmente significava – muito além das canções-exaltação de Ary Barroso. “Foi ali que comecei a me enturmar com o chamado samba de meio de ano, que não é de carnaval. Adorei, comecei a ouvir sambistas de todas as épocas”. A descoberta do parentesco entre o samba e o jazz veio à tona à medida que ele se aprofundava naquele repertório. “Além da influência negra, a harmonia europeia aproxima os dois gêneros”, observa, salientando que a bossa nova é o modelo de samba em que isso é mais notado. “Foi por meio da bossa que o samba se modernizou. Mas a gente já tinha compositores ‘parentes’ de Nova Orleans, como Pixinguinha e Sinhô. Eles ouviam o que se tocava na terra do jazz”, informa o maestro. Não por acaso, em 1917 foram gravados os primeiros discos de samba (Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida, no Rio) e de jazz (Tiger rag, da Dixieland Jazz Band, formada por músicos brancos de Chicago, nos Estados Unidos). Com Samba e jazz – Um século de música, Wagner Tiso mostra os dois gêneros em recorte que privilegia os anos 1920-1960. “Ambos têm a mesma origem. O jazz, mais que o samba, usufruiu muito da harmonia europeia. Mas o samba também, pois gerou a bossa nova, que, por sua vez, tem muito da harmonia do jazz”, reforça. As 12 faixas do CD foram divididas entre composições de Sinhô (a inédita Volta a palhoça), Ary Barroso (Inquietação e É luxo só, parceria com Luiz Peixoto), Nelson Cavaquinho (Folhas secas), Zé Keti (Opinião), Chico Buarque (Samba de um grande amor) e Paulinho da Viola (Quando o samba chama) e as homenagens do maestro aos jazzistas Count Basie (Shinny stockings e April in Paris), John Coltrane (Naima), Bill Evans (medley de Smoke gets in your eyes, What is there to say e Young and foolish) e Miles Davis (Tune up e Solar).

SAMBA & JAZZ
Agenda
São Paulo
Teatro Fecap. Em 20, 21 e 22 de março Solistas convidados: Nivaldo Ornelas, Victor Biglione e Nicolas Krassik e Paulo Moura
Rio de Janeiro
Mistura Fina, 24 de março Centro Cultural Carioca, 25 de março Solistas convidados: Paulo Moura, Victor Biglione, Nivaldo Ornelas e Nicolas Krassik
Belo Horizonte
Teatro Sesiminas, 26 de março Solistas convidados: Victor Biglione e Nivaldo Ornelas

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