Antes de sair, verifiquei todas as portas e janelas pelo menos umas cinco vezes.
Algumas janelas estavam trancadas com cadeado e, a cada tentativa de abri-los, sentia-me totalmente insegura. Havia em mim uma ânsia pela tal liberdade, e aqueles cadeados eram uma afronta aos meus sentimentos. Rompi bruscamente, numa ingênua intenção de deixá-los ali, como se não fizessem parte da minha rotina. Como se não fossem o meu elo com a realidade. Sim, aqueles cadeados sopravam verdades sobre a realidade, sobre a crua realidade do viver. E, sendo mais objetiva, não era apenas metáfora.
Fui acorrentada antes da concepção, nasci presa aos conceitos e pré-conceitos. Fui obrigada a ir à escola, e desde cedo tive que me encaixar, padronizar.
Cresci com os sentimentos reprimidos e a minha verdade gritando em silêncio. Minha vontade não era igual a dos outros.
Minha dor, muitas vezes se transpunha para o papel, e como um veludo me aquecia nas noites em que o cobertor caía.
Minha solidão, sempre foi companhia, e eu nunca a deixei partir. Preenchia-me a alma.
O amor tinha que ser escondido, mas a violência era estampada, jogada na cara. Eu nunca compreendi.
Os cadeados sempre me incomodaram. Mas nunca fui além de mim mesma. Não fui hippie, não fui dark. Sempre fui eu mesma, com todas as personas a que tive direito. “Porque antes de tudo, ser artista é ter sangue nas veias. E nesse mundo só o que fazemos é atuar. Mulheres que somos. Representando a submissa do fogão; a normalista; a fã do ídolo de rock; a apaixonada, a realista; a infinita; a Julieta; a lady Macbeth, a dona doida.”
E assim, vamos arrebentando os cadeados. Transpondo os desejos, se entregando às verdades. Mas não se iluda. Eu nunca disse que seria fácil me amar.Meus sentimentos são demasiadamente pesados... Mas a contraponto, sou pluma. E que Deus te proteja de mim.
Estava tudo organizado no meu quarto. As malas prontas. O perfume, flores, livros, espelho. A cama grande e macia. A mala transbordando... E eu, em desacordo com tudo isso.
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