sexta-feira, 4 de novembro de 2016
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
CHEIROS
Andar pelo centro da cidade
numa segunda de manhã é fotografar com os sentidos todos os aromas e
formas. É de alguma maneira sentir-se fora do lugar com tantos olhos e
bocas subjugados pelo destino. Atrelar cada indivíduo ao
cheiro que exala em um momento tão despretensioso é quase uma afronta ao
neorromantismo. É como descolar a pele do corpo e deixar jorrar o sangue com
seu cheiro de vida. Porque sim, a vida é composta por todos os tipos de
cheiros.
E quando os cheiros se
misturam, todos os indivíduos se tornam matéria prima. Alguns têm cheiro de sol
quando desponta para aquecer as gotas de orvalho que se formam na madrugada.
Outros têm cheiro mar ressaqueado que sai atropelando as rochas pelo
caminho. Tem aqueles que exalam o perfume das borboletas voando sobre a
vida. Tem gente com cheiro de flor. Tem uns que cheiram a sexo. E muitos,
são fétidos.
Mas alguns são quase um Grenouille. Não exalam cheiro nenhum. São imperceptíveis. Passam pela vida como uma sombra na noite. Talvez eu preferisse esses, quando ando pelo centro da cidade. Porque afinal, já carrego na memória um perfume tão excepcional, que não se faz necessário sentir os cheiros do centro da cidade.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Você!
Chegou assim, de mansinho
como a brisa numa tarde de verão.
Chegou beijando o tempo,
impetuoso e urgente.
Veio cálido, mesmo que a
madrugada arriscasse o frescor da juventude.
Despiu-me despudoradamente
dos pensamentos arcaicos.
Adentrou em mim com perfumes
e um silêncio ensurdecedor.
Trouxe para as noites vazias aconchego e desejo inflamado.
Permanece aqui, meio inocente meio voraz
Com certo ar lacônico que o faz enigmático.
Aspiro durante o dia teu silêncio
E decifro toda madrugada teu mistério.
Por cheiros, suspiros, música e alma – tudo em você me acalma.
domingo, 14 de dezembro de 2014
É inevitável não pensar alucinadamente na existência humana.
Sinto-me um pontinho escuro na clara ilusão atmosférica, como ar sufocante na vênula. É claro que ainda palpita, incessantemente. Como os sinos que badalam ao meio dia, despretensiosamente.
Clara atitude
Meio raso
Superfície dilacerada
Garras afiadas
Estou perdidamente desapropriada. Não sei onde começo e preciso perder-me para encontrar meu princípio.
Não pertenço a este lugar, sou uma estranha que acorda todos os dias comigo.
Sinto dores nos ossos, na pele e n’alma como se tivessem me amputado o coração.
Sinto meu sangue jorrando, me esvaziando como as nascentes áridas de oxigênio.
“Sinto sede de infinito.”
Sinto, mas tenho que te dizer: Preciso partir.
Necessário o sui caedere para dentro de mim. É preciso pular nesse imenso abismo dentro de mim.
Apropriar-me daquilo que realmente sou. Respirar aquele sopro de vida que ainda me resta.
E quando eu me for, tenha certeza, estarei mais infinita e plena como a raiz da íris, a “nota de coração” dos raros perfumes.
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