Andar pelo centro da cidade
numa segunda de manhã é fotografar com os sentidos todos os aromas e
formas. É de alguma maneira sentir-se fora do lugar com tantos olhos e
bocas subjugados pelo destino. Atrelar cada indivíduo ao
cheiro que exala em um momento tão despretensioso é quase uma afronta ao
neorromantismo. É como descolar a pele do corpo e deixar jorrar o sangue com
seu cheiro de vida. Porque sim, a vida é composta por todos os tipos de
cheiros.
E quando os cheiros se
misturam, todos os indivíduos se tornam matéria prima. Alguns têm cheiro de sol
quando desponta para aquecer as gotas de orvalho que se formam na madrugada.
Outros têm cheiro mar ressaqueado que sai atropelando as rochas pelo
caminho. Tem aqueles que exalam o perfume das borboletas voando sobre a
vida. Tem gente com cheiro de flor. Tem uns que cheiram a sexo. E muitos,
são fétidos.
Mas alguns são quase um Grenouille. Não exalam cheiro nenhum. São imperceptíveis. Passam pela vida como uma sombra na noite. Talvez eu preferisse esses, quando ando pelo centro da cidade. Porque afinal, já carrego na memória um perfume tão excepcional, que não se faz necessário sentir os cheiros do centro da cidade.
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