terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

CHEIROS





Andar pelo centro da cidade numa segunda de manhã é fotografar com os sentidos todos os aromas e formas. É de alguma maneira sentir-se fora do lugar com tantos olhos e bocas subjugados pelo destino. Atrelar cada indivíduo ao cheiro que exala em um momento tão despretensioso é quase uma afronta ao neorromantismo. É como descolar a pele do corpo e deixar jorrar o sangue com seu cheiro de vida. Porque sim, a vida é composta por todos os tipos de cheiros. 


E quando os cheiros se misturam, todos os indivíduos se tornam matéria prima. Alguns têm cheiro de sol quando desponta para aquecer as gotas de orvalho que se formam na madrugada. Outros têm cheiro mar ressaqueado que sai atropelando as rochas pelo caminho. Tem aqueles que exalam o perfume das borboletas voando sobre a vida. Tem gente com cheiro de flor. Tem uns que cheiram a sexo. E muitos, são fétidos. 
Mas alguns são quase um Grenouille. Não exalam cheiro nenhum. São imperceptíveis. Passam pela vida como uma sombra na noite. Talvez eu preferisse esses, quando ando pelo centro da cidade. Porque afinal, já carrego na memória um perfume tão excepcional, que não se faz necessário sentir os cheiros do centro da cidade.  

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