quinta-feira, 8 de março de 2012

Por hoje é só...


Então é isso... Não dá mais! Chega de ser superficial. Preciso me preencher com o sal da vida. Compreender o prazer mais intímo da mulher, o orgasmo real. Não quero mais me contorcer de um lado para o outro, gemer e sussurar falsas palavras ao som do Blues da piedade. Não quero me virar para o canto e dormir, sem assunto. 
Estou saindo, abrindo a porta e arrancando o marco. Durante 36 anos, estive vendo o sol nascer, ouvindo as queixas do meu analista, muitas vezes, gozando sem prazer. E estudando sobre a possível secularização no reino de Creonte. Sim, quando eu comecei a gozar, as coisas já haviam mudado muito, não tive o prazer de gozar ao som de love me tender. Acho que meu período esteve entre o Elvis Presley e “Assim você me mata”. Claro que houve muita coisa boa antes de você me matar, mas eu acho que ainda não gozava.
Já desarrumei a mala. Desmontei os figurinos, desmanchei as teias de aranha acumulada ao longo dos anos.
Estou desconstruindo velhos pensamentos, desorganizando os livros na estante. Invertendo a posição da pirâmede de maslow. Troquei as gavetas e guarda-roupas por prateleiras. Quero tudo exposto, inclusive, as feridas.
Não fecho portas, pois elas não existem mais. Tirei a maquiagem do rosto e despi-me a pele de lebre. Mas pretendo utilizar algumas referências antigas, por que o atual nem sempre é novo. Quero beber da fonte dos que possuem um discernimento maior e melhor que o meu.
Agora, ao contrário do que todos possam imaginar, vou vestir-me com uma camisola do dia, confortável, colocar na vitrola o vinil do Chico e da Bethânia de 1975, beber um absinto e gozar. Gozar muito. Vou rever a chegada do homem à lua, refletir sobre a importância do movimento feminista... Pensando bem, prefiro avaliar a capacidade intelectual do Einstein e me preocupar com a tão falada camada de ozônio, na década de 90. 
É, o tempo esvaindo e a percepção de que tudo vai se tornando desinteressante, as coisas vão perdendo o valor, e não há mais pelo que lutar. É tudo tão fluído. Até a minha geração, os cara pintadas, perderam a verdadeira essência. Antes, ter um ideal era tão mais interessante que ter um peito comprado na liquidação. E quando se gozava, era de prazer real, porque além do tesão e dos corpos suados, havia uma boa razão para o cigarro depois do sexo. Ta certo que hoje não é politicamente correto fumar, pros diabos, eu nunca fumei mesmo. Mas que eu sempre achei interessante aquele cigarro depois sexo, isso sim, eu achava. E sendo sincera, ainda acho, principalmente se ele vier acompanhado de um bom papo,Gonzaguinha sangrando ao pé do ouvido, seu amado recolhendo e devolvendo os versos que sua boca deixa cair pelas páginas de um Neruda. Isso sim, é prazer real.
Houve uma inversão de valores, e o rebolado da Garota de Ipanema já não faz tanto verão assim, na verdade, nos últimos verões tem sido mais requisitado a salada de frutas.
Por hoje é só. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário