O dia 20 de novembro podia ser mais um
dia de primavera, colorido por frondosos flamboyants, com seu tronco
forte e ampla copa em forma de guarda-chuva. Sua raiz firme fincada em terras
brasileiras. Considerada por alguns como a árvore mais bela do mundo, devido à
cor intensa de suas flores, é também chamada de árvore flamejante. Está tão bem
adaptada em nossa região que até parece nativa. Mas é originária da costa leste
da África, de Madagáscar.
Os flamboyants africanos, assim como os
ipês brasileiros convivem, florescem, enfeitam, perfumam e complementam a
beleza em cada estação. Porque apesar de serem de origens diferentes, são
semelhantes e tem as mesmas necessidades. Assim somos nós, diferentes, mas
iguais. Semelhantes. E assim deveria ser, se não fosse o preconceito encontrado
em todas as partes do mundo, e que vem sempre acompanhado de ações
discriminatórias contra o indivíduo e/ou grupo, fato esse que nos remete à
intolerância racial.
O dia 20 de novembro além de um dia de
primavera, é também, o dia da Consciência Negra. E a escolha dessa data não foi
à toa - em 20 de novembro de 1695, Zumbi - líder do Quilombo dos
Palmares - foi morto em uma emboscada na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco, após
liderar uma resistência que culminou com o início da destruição do Quilombo dos
Palmares.
A homenagem a Zumbi, além de muito
justa é um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura
e do povo africano na formação da cultura brasileira. O Brasil recebeu uma
grande população de escravos vindos de diversas regiões da costa Africana, como
os Angolas, os Bantos, os Nagôs, dentre outros.
Além de ser fundamental para base da
nossa etnia, o povo africano contribuiu para construção das riquezas do país.
Essa miscigenação promoveu uma considerável herança cultural que pode ser
compreendida na religião, na gastronomia, na língua e na música.
Vale lembrar que no Brasil, o
preconceito racial sempre foi velado e, vergonhosamente fomos o último país da
América Latina a abolir a escravidão. E, guardadas as devidas proporções, ainda
não me convenci disso.
Com a implementação do projeto Lei
número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003, o dia 20 de novembro foi incluído
no calendário escolar, tornando obrigatório o ensino sobre História e Cultura
Afro-Brasileira, assim, os professores devem inserir em seus planos de aula
temas como: História da África e dos africanos, luta dos negros no Brasil,
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.
Com tudo isso, o desejo é um só: que
flamboyants e ipês possam florir juntos, construindo uma história diferente,
onde os negros sejam vistos pela sua essência e não pela cor, “pois renegar o
negro e sua contribuição histórica é, sem dúvida, renegar a si próprio”.